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terça-feira, 19 de junho de 2018

Viagem pelo Peru


A viagem ao Peru é a realização de um sonho, pois visitar Machu Pichu faz parte, já há muito, do meu imaginário. Por isso, já eram horas de o concretizar. Mas visitar apenas um sitio não faz parte dos meus planos mas sim visitar o mais possível de um país e de preferência de mochila às costas. 
E assim foi planeada a viagem ao Peru: 

Dia 1 - Lima/voo para Cusco
Dia 2 - Cusco
Dia 3 - Vale Sagrado/comboio Ollantaytambo-Águas Calientes
Dia 4 - Machu Pichu/comboio Águas Calientes-Cusco
Dia 5 - Montanhas Coloridas
Dia 6 - bus para Puno/bus nocturno para Arequipa
Dia 7 - Arequipa
Dia 8 - Canhão de Colca
Dia 9 - voo para Lima
Dia 10 - Lima
Dia 11 - visita a Paracas/Huacachina
Dia 12 - Lima/Lisboa

Para nós o Peru começou em Cusco. A visita a Cusco é obrigatória, pois para além de ser a cidade base para visitar o sítio Arqueológico de Machu Picchu é também considerada a mais bela cidade do continente sul-americano.
É realmente uma cidade deslumbrante cheia de história e com um património impressionante...fiquei logo apaixonada pela cidade.
Há quem diga que não se deve começar por Cusco pela sua elevada altitude (3400m) e que se deve ir subindo gradualmente para aclimatizar o corpo. No entanto, devido à nossa falta de tempo tivemos que optar por este inicio. 
É verdade que os efeitos de altitude afectam-nos bastante e que os primeiros dias são um pouco difíceis. Logo no 1.º dia enquanto passeávamos pelas ruas começámos a sentir estes efeitos. Sente-se uma dor, tipo aperto no peito, quando respirámos e um cansaço absurdo ao caminhar micro distâncias. O coração acelera com o mínimo de esforço e por vezes sente-se uma pressão muito grande na cabeça. 
Existem algumas coisas que podemos fazer para ajudar o corpo adaptar-se mais rápido, como a folha de coca que é super conhecida no Peru, Chile e Bolívia por ser medicinal, não só para a altitude, mas também por ter efeitos analgésicos, diuréticos e auxiliar a digestão. 
E não, ela não provoca qualquer efeito alucinogeneo...ela vai fazer com que circule mais oxigénio no corpo, melhorando assim todo o seu funcionamento. 
Assim, logo pelo manhã, em praticamente todos os alojamentos, o que dão aos hóspedes ao pequeno-almoço é chá de coca. 
Visitar Cusco é deslumbrante mas fazê-lo em junho tornou-se ainda mais surpreendente pois todos os dias havia uma actividade qualquer na Plaza de Armas, o que faz parte da preparação para a festa da cidade (comemoração do solstício de inverno) no dia 24 de junho– festival religioso Inti Raymi – celebrado desde a época dos Incas. 
Para além de passear sem rumo pelas ruas de Cusco outro passeio imperdível é visitar a fortaleza de Saqsayhuaman, que fica a 3700m de altitude e que nós resolvemos fazer a pé!! A subida é bastante difícil principalmente quando ainda não estamos aclimatizados!! Mas vale pela visita, pois para além de vermos a fortaleza inca impressionante, construída com pedras gigantescas que se encaixam entre si na perfeição, aqui também existe um miradouro com uma vista maravilhosa para a cidade de Cusco!! 

De Cusco partimos para o Vale Sagrado dos Incas de taxi. O seu nome deve-se ao facto de este local ser abundante em água, e água é sinónimo de vida. Visitámos as ruínas mais famosas tais como Tambomachay, Pisaq e seu mercado (onde fizemos muitas compras!), Salinas de Maras, Moray e terminámos em Ollantaytambo. Ao longo de todo o vale as paisagens são lindíssimas, com vales verdejantes e campos de cultivo dispostos em socalcos nas encostas das imponentes montanhas. 
Em Ollantaytambo apanhámos o comboio Inca Rail (caro!!) para Águas Calientes, pequena aldeia que serve de ponto de passagem obrigatório para quem vai para Machu Pichu. 

Quanto a Machu Pichu, palavras para quê?? É a cidade perdida- cidade construída no topo de uma montanha a 2400m de altitude, no vale do rio Urubamba. É uma das 7 maravilhas do mundo.
Existem 2 turnos de visita, nós óptamos pelo da manhã. 4h45 da manhã e a fila do bus para Machu Pichu é interminável!!!...mas depois até acaba por andar rápido. Subimos a montanha ainda de noite cerrada, mas quando entrámos na cidade inca já se vislumbravam os primeiros raios solares a surgirem sobre a cidade, tornando a paisagem deslumbrante e inesquecível. Ainda bem que escolhemos este horário, pois deu para ver a cidade ainda tranquila e vazia por haver poucos turistas. 
Não há palavras para descrever o que sentimos quando nos aproximamos da cidade. Todo o cenário envolvente das montanhas e da vegetação amazónica tornam a sua localização especial. No silêncio e na tranquilidade jaz a cidade perdida que se encontra muito bem conservada. 
A construção desta cidade é intrigante, pois para além da sua inacessibilidade, trata-se de uma verdadeira obra de engenharia com a estrutura de terraços que travam o deslizamento de terras. Andar por entre as ruínas, nos templos com as pedras milimetricamente colocadas é uma experiência única. 

Para além da visita às ruínas da cidade, pode-se também visitar uma das 2 montanhas: Huayna Picchu (localizada no fundo da cidadela e comummente vista em imagens atrás das ruínas), e Montanha Machu Picchu (no lado oposto de Huayna Picchu). O meu bilhete incluía a entrada na Montanha Machu Pichu. 
O cenário no topo da montanha é maravilhoso, mas fazer este trilho foi muito difícil pois exige muito esforço. O trilho tem muitas escadas em pedra e é muito a subir. Demorei cerca de 2h atingir o topo, mas valeu pelo desafio e pela paisagem.

No final de contas, Machu Picchu é sem dúvida um lugar incrível, com uma beleza única e com uma energia especial.
O caminho de volta a Águas Calientes decidimos fazê-lo a pé o que também não foi muito fácil. Foi sempre a descer por uma escadaria entre a vegetação e que também demorou o seu tempo.

Aproveitamos ainda a estadia em Cusco para visitarmos mais um local inesquecível - a Montanha Colorida ou Montanha Arco-Íris, ou mais internacionalmente falando, Rainbow Mountain
Para lá chegar comprámos a viagem numa agência de turismo, que incluía irmos num grupo com transporte, guia, pequeno-almoço e almoço. A viagem até lá demorou cerca de 3h, por estradas estreitas e sinuosas, desprovidas de qualquer sinalização e asfalto!! Mas as paisagens são magnificas, de montanhas com neve e vales cultivados.
O pequeno-almoço e almoço foram na casa de uma aldeia, que serve de base aos caminheiros do grupo. 
Quanto ao passeio, este foi bem diferente de tudo o que fizemos até agora, pois envolveu uma caminhada difícil a uma altitude elevada. Foram 11km em 3h, com um desnível de 500m, em altitudes acima dos 4500m. Foi um verdadeiro desafio!! Cada vez que dávamos 2 passos parecia que ficávamos sem fôlego. Beber muita água ajuda aguentar melhor. Para além da altitude, também tínhamos que enfrentar o frio que se sentia. A caminhada parecia não ter fim...mas eu estava determinada a terminá-la!! E consegui, cheguei aos 5100m!! Foi o meu maior desafio até agora pois nenhum outro local me provocou tanta dificuldade. Mas valeu a pena pois a beleza do local é indescritível. Chegar ao fim e ver as cores na montanha é sem duvida um privilégio e uma oportunidade única. Chegada ao fim, também ganhei uma valente dor de cabeça e uma sensação de enjoo, mas nada que um paracetamol não resolvesse!!

De Cusco fomos para Puno numa viagem de autocarro de cerca de 6h, no Cruz del Sur. A cidade de Puno não é uma cidade muito bonita e interessante mas serve de ponto de partida para visitar o Lago Titicaca e as suas ilhas. Assim sendo, fizemos uma viagem de barco no lago até a ilha de Uros. O lago é muito grande e está a 3800m acima do nível do mar, tornando-se o lago mais alto do mundo. 60% do seu espaço pertence ao Peru e os restantes 40% à Bolívia.
Uros é uma ilha flutuante construída com juncos e raiz de tortora amarrados e sobrepostos em camadas que podem totalizar três metros de espessura e que exigem muita manutenção. Pisar a ilha é uma sensação estranha, pois parece que estamos a pisar esponja. Existem várias ilhas destas onde vivem famílias de forma muito simples e que sobrevivem à custa do turismo.

Passamos apenas um dia em Puno e no final do dia viajámos no autocarro nocturno para Arequipa
Arequipa é a segunda cidade mais populosa do Peru, localizada a 2300m de altitude. É uma cidade colonial cheia de charme, onde a Plaza de Armas marca o ponto onde tudo acontece. Aproveitamos a nossa estadia aqui para descansar um pouco, pois vale a pena perder algum tempo a explorar a cidade a pé. 
A cidade está rodeada de vulcões, que são possíveis de ver de qualquer ponto, alguns já extintos, outros ainda bem activos, e que tornam a paisagem interessante.

Para além de visitar a cidade aproveitamos também para fazer um tour de 1 dia pelo Canhão de Colca.
Dizem que o Canhão de Colca é o canhão mais profundo do Mundo, no entanto, existem outros que alegam o mesmo, tal como o Grand Canyon nos EUA. Qual o maior, não sei, mas sei que o canhão de Colca é realmente profundo. Por exemplo na Cruz do Condor, onde assistimos ao voo magistral de alguns condores, o canhão tem 1000m de profundidade. É por isso que o Condor dos Andes escolhe este local para nidificar. 
Neste dia vimos paisagens deslumbrantes. Com os picos da Cordilheira dos Andes sempre presentes, fizemos a estrada que liga Arequipa a Chivay, que está quase a 5000m acima do nivel do mar e cujas paisagens são, literalmente, de cortar a respiração!
Aqui o llama, a alpaca e o vicuña são os animais de porte que dominam a região. 
Devido à variação de paisagens e de altitude neste dia apanhámos tanto um sol escaldante como um frio gelado. Vivemos na realidade uma variedade de sensações. E sendo ou não o canhão mais profundo do mundo, o Colca merece, claramente uma visita!

De Arequipa voámos para a capital - Lima, para poupar algum tempo. 
Lima é uma capital como outra qualquer. Tem 8 milhões de habitantes com um trânsito caótico!!!! Nunca vi nada igual e eu já viajei pela Índia e Ásia!!
É também conhecida por ser uma cidade pouco segura, por isso optámos por ficar alojadas em Miraflores. É um bairro à beira-mar conhecido pela sua relativa segurança e ambiente de classe média, com centros comerciais, parques, passeios marítimos e restaurantes. Trata-se de uma zona de conforto mas se me perguntarem qual bairro prefiro escolho Barranco, que é outro bairro um pouco mais afastado mas com alguma história e com um ambiente mais descontraído e artístico. 
De Miraflores para o centro histórico íamos de "Metropolitano" cujo nome pode enganar pois trata-se de um sistema de autocarros, bastante organizado e rápido, que percorre toda a cidade. Em cerca de 20 a 30 minutos chega-se ao centro histórico, isto quando não há trânsito!!
No centro histórico de Lima, andamos bastante a pé a passear pelas ruas, visitámos o mosteiro de São Francisco e as catacumbas, bem como a Catedral que fica na grandiosa praça central, onde Francisco Pizarro fundou a cidade no século XVI - Plaza de Armas.  
Visitámos também o mercado de Lima e o bairro chinês que possui um ambiente sui generis. A certa altura achávamos que estávamos mesmo na Ásia!!!
Aproveitamos também um dos dias em Lima para fazermos um tour a Paracas, às Ilhas Ballestras e a Huacachina. 
A Reserva Nacional de Paracas corresponde a uma área protegida de águas marinhas e de deserto. Compreende uma serie de ilhas e uma área do deserto mais árido do Peru. 
Em Paracas, apanhamos um barco que nos levou até às Ilhas Ballestas. Estas ilhas possuem um ambiente marinho muito rico em plâncton, e atrai muitas aves. Por isso a população de aves é enorme. No entanto, além das aves (cerca de 200 espécies) também vivem na ilha outros animais como pinguins de Humbolt e lobos marinhos.
Ao longo do passeio, não é possível sair do barco e andar pelas ilhas pois o objectivo é reduzir ao máximo a interferência do Homem com a rotina dos animais assim como o seu habitat natural. Por isso andamos todo o tempo de barco em redor das ilhas e foi surpreendente ver os leões-marinhos, pinguins, pelicanos entre outros animais no seu estado selvagem. É literalmente um episódio do National Geographic ao vivo e a cores.

De seguida, fomos para Huacachina que é uma espécie de oásis no deserto. É uma pequena povoação com uma lagoa no meio rodeada de palmeiras e dunas de areia. Esta povoação vive essencialmente em função dos turistas. 
Uma das atracções deste local são os passeios de buggy por isso resolvemos fazer uma viagem o que foi deveras emocionante!! Percorremos alguns quilómetros a cortar dunas e a descer algumas bastante íngremes. A certa altura paramos, e o guia dá-nos uma prancha de madeira e diz-nos que estará à espera mais abaixo. Está na altura de experimentar … SANDBOARD!!! De cabeça para baixo e deitada na prancha desci a 1ª duna que não me pareceu nada difícil. Por isso resolvi descer as restantes que iam aumentando à medida que íamos avançando…E com a adrenalina no máximo desci todas as dunas. Foi uma verdadeira emoção!!
O dia terminou a vermos o pôr-do-sol e com o cenário do oásis de fundo. Foi sem duvida um dia fantástico. Regressámos a Lima e terminou assim a nossa viagem pelo Peru. 

O Peru foi um dos países que mais me surpreendeu até hoje e onde vivi algumas das minhas maiores aventuras em viagem. É um país imenso. Terra das mil e uma paisagens, aqui encontrei de tudo um pouco: praia, deserto, montanha, selva, neve…para além de uma cultura e gastronomia riquíssima. 
É, sem dúvida, um daqueles destinos que ficará na memória para sempre.