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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

China em 19 dias


Mais um destino no Oriente, desta vez foi a China. Foi uma viagem incrível, apesar de algum frio, chuva e das dificuldades com a língua (que já esperava!). Foi um pouco cansativa e difícil em alguns momentos mas muito gratificante, pois são as pequenas dificuldades que transformam uma viagem numa experiência única!
Foram 19 dias a percorrer muitos quilómetros, no entanto, saímos da China com a sensação que tem muito mais coisas para fazer e conhecer!

A 1ª cidade chinesa que visitámos foi Hong Kong e que ainda não é considerada China. Trata-se de uma Região Administrativa Especial com autonomia governamental e uma economia capitalista. É uma cidade moderna, agitada e cosmopolita, com inúmeros edifícios modernos e arranha-céus que formam o skyline da cidade. Trata-se da cidade com uma das maiores densidades populacionais do mundo, e que faz jus à fama de ser a cidade mais ocidental da Ásia, pois aqui existem placas por todo o lado em inglês e quase todos falam inglês.

Só quando aterrámos em Beijing é que nos apercebemos que chegámos realmente à China. A 1ª impressão ao chegar é que em território chinês, o inglês serve de pouco!! Por esse motivo, aprendemos rapidamente a certificarmo-nos de ter sempre as moradas dos hostels escritas em caracteres chineses!! Isto facilitou um pouco a viagem, porque boa parte da população não sabe falar inglês. A comunicação por vezes era feita através de sinais, o que se tornou muito eficiente em algumas situações. Algumas pessoas abordam-nos para poder praticar o inglês, pois existe uma curiosidade natural com os ocidentais. Outra forma de comunicação era através de aplicação de telemóvel que os chineses dominam.
2ª impressão é que o comportamento dos chineses, por vezes pode parecer estranho, pois tudo o que somos ensinados, desde pequenos, a não fazer, aqui é norma, tal como: arrotar alto em publico, escarrar e cuspir para o chão, abrir caminho aos empurrões, aspirar ruidosamente noodles...é todo um código de conduta muito sui generis!!
Quanto às cidades chinesas elas são cidades gigantes, super limpas, organizadas e modernas. As avenidas são enormes, com 3 a 4 faixas de cada lado (no mínimo), a construção é frenética, com inúmeras gruas a marcar o horizonte e a poluição está sempre presente no ar, comprometendo bastante a visibilidade. A poluição está tão presente que é praticamente impossível ver o céu azul e o sol.

Beijing é uma cidade colossal e moderna, que impressiona pela sua imponência e grandiosidade. É completamente impossível de ver tudo o que tem para oferecer de uma só vez. Visitámos as atracções principais: Cidade Proibida, Praça Tiananmen, a Grande Muralha da China e o Palácio de Verão, não dando para muito mais.

Para entrar na Cidade Proibida temos que passar obrigatoriamente pela Praça Tiananmen, praça com segurança muito apertada e considerada a maior praça do mundo. Esta possui uma enorme carga cultural, pois foi palco de vários acontecimentos ao longo dos anos na história deste país. Aqui está presente a herança de Mao Tsé-Tung, tal como revela a sua enorme fotografia pendurada no prédio de entrada para a Cidade Proibida.

A Cidade Proibida é o complexo arquitectónico mais majestoso da China, com os seus vários edifícios. É uma autêntica cidade dentro de outra cidade. Destaca-se pelos seus detalhes de construção e pelas suas cores, pois abunda o uso da cor vermelha, amarelo e azul e abundam as pessoas. No país mais populoso do mundo é sempre tanta gente que às vezes parece que estamos num parque temático gigante.

É através de Beijing que se pode aproveitar para visitar alguns troços da Grande Muralha da China. Considerada uma das maiores obras da humanidade, esta é constituída por um conjunto de muros e fortalezas defensivas com cerca de 7,200 km, distribuída por 6 províncias e regiões autónomas chinesas. Alguns troços são mais turísticos que outros, obviamente optamos pelo menos turístico - Mutianyu, que fica um pouco mais distante de Beijing (70 km). A intenção era visitar a muralha de forma independente, mas devido à falta de tempo e de algum receio de nos perdermos, decidimos ir no tour organizado pelo hostel e que foi tranquilo. Contudo, a visita foi uma desilusão, devido ao mau tempo. Não conseguimos ter visibilidade para além de 1 metro de distância e por isso não conseguimos vislumbrar a muralha a serpentear os cumes dos montes, tal como é conhecida! Valeu pela experiência de andar pela muralha, a percorrer as subidas e descidas íngremes. Foi também interessante e uma experiência única observar a forma como os turistas chineses se comportam!!
Neste dia tivemos ainda a oportunidade de comer um almoço tradicional chinês. Ao contrário do que se julga, a cozinha chinesa é saborosa e bastante equilibrada que aposta na variedade, muito mais do que o que se prova num qualquer restaurante chinês ocidental.

Ainda em Beijing pudemos experienciar a sensação de viver num hutong pois ficámos alojados no Hostel Downtown Backpackers que se situa mesmo no centro do hutong de Nanluoguxiang. Os hutongs são bairros característicos, onde vivia a população local, com ruas apertadas, paradas no tempo, ladeadas em toda a extensão por corredores de muros cinzentos, que foram construídos há centenas de anos e são um símbolo da história da cidade.

Deixámos Beijing e viajámos no comboio nocturno até Datong. Lemos em vários blogs que comprar viagens de comboio na China poderia tornar-se uma tarefa difícil, pois por vezes poderá estar esgotado ou o comboio ser até inexistente, por isso sempre que precisámos pedíamos à recepção do hostel (com quem habitualmente conseguíamos conversar em inglês), para o fazer por nós, pagando uma comissão (claro!) e foi sempre tranquilo. Dormir no comboio não foi assim tão mau, até porque quem já dormiu no comboio na Índia, este é para bebés!!

Chegámos a Datong. Esta é uma cidade cinzenta marcada pela forte poluição. O problema da poluição do ar na China é uma realidade em quase todas as cidades, pois em todas existe uma industria fortemente dependente do carvão, pois não fosse a China o maior produtor e consumidor, deste minério, no mundo!!
Datong é a porta de entrada para se poder visitar as incríveis grutas de Yungang situadas a alguns kms de distância da cidade. Sem querer exagerar estas são surpreendentes. É difícil encontrar um adjectivo para descrever este lugar fantástico. Existem cerca de 45 grutas com estátuas de Buda escavadas na pedra. Entrar em cada gruta torna-se uma surpresa, pois algumas grutas estão totalmente trabalhadas e esculpidas criando um aspecto de tirar o fôlego.

Chegámos a Pingyao de comboio. Esta é uma pequena cidade amuralhada, classificada como Património Mundial pela UNESCO. É considerada a melhor e mais bem conservada cidade medieval chinesa. Percorremos as ruelas de Pingyao com a sensação de termos recuado no tempo, pois esta mantém-se intacta.

Mais uma cidade, mais uma viagem de comboio, mas desta vez no High Seed Train. O destino final era Xi'an, a capital da província de Shaanxi. Trata-se de uma das mais antigas cidades da China, outrora o ponto de partida da Rota da Seda, de onde partiam os mercadores em direcção ao Ocidente. Continua a ser uma cidade onde se sente um grande mix cultural, bem visível quando visitámos o bairro muçulmano.

Xi'an é também o ponto de partida para ir ver os Guerreiros de Terracota, onde existem cerca de 8000 estátuas que foram construídas para proteger o 1º Imperador da China na vida para além da morte e que foram descobertos ao acaso durante a exploração de um furo para um poço, muito recentemente. Algumas estátuas ainda se encontram enterradas e desmembradas, mas todos os dias prosseguem os trabalhos de recuperação.

Há muito que sonho em viajar ao Tibete, no entanto, não tendo sido ainda possível resolvemos incluir Shangri-la no roteiro, que fica na província Yunnan e que faz fronteira com a região autónoma do Tibete. Digamos que já é um pézinho no Tibete. A cidade fica no meio das montanhas numa altitude de 3200m o que por vezes poderá condicionar a tua forma física. Depois de uma China hiperpovoada, hiperindustrializada, hiperpoluida, chegámos a Shangri-la, uma região ainda vazia de gente, de construção, de poluição e de confusão. É como se entrássemos noutro país. Direi até que se parece muito com os Andes: as pessoas com os rostos queimados e escurecidos, o artesanato colorido, o vento gelado e até a música. Em vez de Lhama há o Iaque. E vale a pena provar a carne de iaque. É deliciosa!
Shangri-la foi uma das minhas cidades preferidas da viagem. Aqui desacelerámos o ritmo e relaxamos. Andámos de bicicleta a contemplar as belas paisagens que respiram tranquilidade. Um momento curioso e bonito foi um dia à noite, quando chegámos a uma praça e vemos a população a dançar em roda, ao som de musica popular. Parece que é prática habitual, todos os dias por volta das 19h reunirem-se na Dancing Square para dançar. Achei lindo demais!!
Visitámos ainda o famoso Ganden Sumtseling Stompa (mini Potala Palace), um dos mais famosos mosteiros budistas do sudoeste da China. Subir as escadas poderá se tornar uma tarefa difícil, devido à altitude, mas quando se chega ao topo e se contemplam os templos e a paisagem, tudo é absolutamente perfeito.

Guilin é uma cidade relativamente grande do sudeste da China. Daqui temos acesso aos terraços de arroz (Dragon's Backbones Terraces) e a Yangshuo.
Os terraços de arroz consistem numa área com campos de arroz incríveis, que foram construídos durante a Dinastia Ming há cerca de 500 anos atrás. Para chegar aos terraços fomos numa tour de chineses, num bus que demorou 3h, na qual a guia falou incessantemente, em chinês (claro!) sem percebermos uma única palavrinha que ela disse, o caminho todo. Chegados aos  terraços separamo-nos do grupo e sozinhos percorremos os terraços por um trilho com caminhos de pedras e inúmeras subidas e descidas, até que nos perdemos e por milagre voltámos a encontrar o destino final e o grupo. No entanto, valeu a pena nos perdermos pois, conseguimos ver uma paisagem incrível, de tirar o fôlego, que dificilmente será esquecida.

Yangshuo é uma pequena cidade rural, localizadas a aproximadamente 65 km de Guilin e é o sitio idílico para descansar. Tanto Guilin como Yangshuo são caracterizadas pelas formações kársicas que tornam a paisagem avassaladora. Aqui andámos descontraidamente de bicicleta, metendo-nos pelos caminhos de terra batida, que seguem de aldeia em aldeia, sempre paralelo às margens do rio Li Jiang. A paisagem é única, com tudo verde, muito verde, com extensos arrozais e as espantosas formações rochosas que se elevam do solo como pano de fundo.

Por fim, chegámos a Macau, que nos pareceu tão familiar como se estivéssemos a chegar a casa, pois todas as informações, as placas de ruas, de lojas e restaurantes estão escritas em português e vêem-se pastéis de nata por todo o lado. No entanto, apesar do português ser língua oficial, ninguém fala português.
Macau divide-se em 2, de um lado a parte histórica e do outro lado a parte moderna. No centro histórico pode-se ver a calçada portuguesa e as construções em estilo português com as suas inúmeras igrejas e que são realmente bonitas. Do outro lado situa-se a parte moderna onde as igrejas são substituídas por inúmeros casinos que fazem cair o queixo, pois não é à toa que é considerada a "Las Vegas Oriental".
Foi sem dúvida um privilégio e orgulho poder visitar esta cidade onde a nossa herança cultural está ainda tão presente.

Ao fim de 19 dias a viajar pela China, esta revelou-se uma surpresa, tendo esta visita contribuído para mudar a ideia que tinha dela e para desmistificar alguns preconceitos.
Os chineses são um povo alegre, simpático, acolhedor, prestáveis, que tentam ajudar-te a todo o custo. Adoram quando os cumprimentámos com um "Ni hao" ou "xie xie". É também um país seguro, que cresce a olhos vistos, pois parece que 90% das gruas do mundo estão aqui!! O consumismo é frenético e a tradição há muito desapareceu.
No final, prevalece a ideia de que a China é sem dúvida um país grande, mas que quer ser muito maior!

Itinerário da viagem:
Dia 1 - Chegada a Hong Kong
Dia 2 - Hong Kong. Voo para Beijing
Dia 3 - Beijing
Dia 4 - Beijing
Dia 5 - Beijing. Comboio nocturno para Datong
Dia 6 - Datong. Grutas Yungang. Comboio para Pingyao (16h40). Chegada a Pingyao.
Dia 7 - Pingyao. Comboio rápido para Xi'an. Chegada a Xi'an.
Dia 8 - Xi'an
Dia 9 - Xi'an. Guerreiros de Terracota.
Dia 10 - Xi'an.
Dia 11 - Voo para Diqin (Shangri-la)
Dia 12 - Shangri-La
Dia 13 - Voo para Kunming. Voo para Guilin.
Dia 14 - Guilin.
Dia 15 - Guilin. Autocarro para Yangshuo.
Dia 16 - Yangshuo.
Dia 17 - Yangshuo. Autocarro para Guilin. Comboio rápido para Shenzhen. Ferry para Macau.
Dia 18 - Macau.
Dia 19 - Macau. Ferry para Hong Kong. Voo para Lisboa. 

1 comentário:

Unknown disse...

Viagem de dificuldades mas deram conta do recado :) fantástica viagem!