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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Caminho Português de Santiago



Comecei a pensar em fazer o Caminho de Santiago há já algum tempo, mas nunca tinha surgido a oportunidade até que este ano fui desafiada por uma amiga para ir com ela. Quando ela me desafiou comecei a pensar se teria capacidade de percorrer centenas de km a pé com tudo o que isso implicava. Até que concluí que claro que conseguiria e por isso aceitei o desafio.
Decidimos então fazer, nas nossas férias de junho, o Caminho Português de Santiago, a começar em Valença do Minho (120km). Para ela seria a 3a vez, o que facilitou a organização do itinerário e dos alojamentos.

A minha preocupação seguinte foi decidir o que levar na mochila. A regra básica é só levar o indispensável, ou seja, reduzir e simplificar. Outra regra é que só se deve carregar até 10% do peso do corpo.
Uma das coisas mais prementes que se deve incluir na mochila é o kit de primeiros socorros. Este deve ser leve mas deve conseguir dar uma resposta imediata a uma pequena emergência como feridas, lesões nos pés, queimaduras, picada de insetos, etc.
Assim, consegui levar tudo numa mochila de 20L com cerca de 6kg. O peso ideal para carregar às costas.
Outro item bastante importante é o Cartão Europeu de Saúde que permite o acesso a cuidados de saúde e assistência médica na grande maioria dos países europeus.

Partimos dia 10 de junho na nossa aventura...

1ª etapa - Valença do Minho a Porriño (24km)
Chegamos a Valença do Minho de expresso por volta das 5h da manhã. O plano inicial era chegar de comboio, mas a greve da CP fez-nos alterar os planos e por conseguinte acabamos por ter que fazer uma direta!!!
Bom, chegadas a Valença, a etapa começa com a travessia da Ponte Internacional sobre o Rio Minho. O Caminho está muito bem marcado ao longo de todo o percurso, basta seguir as setas amarelas para chegar a Santiago de Compostela.
Depois da ponte, já estamos em Espanha e pouco tempo depois chegamos ao centro histórico da cidade de Tui.
Depois de sair de Tui, o Caminho conduz-nos até Porriño por um misto de bosques e áreas pedonais.
A melhor parte da etapa foi quando chegamos a um café em Ponte de Febras. Foi um verdadeiro oásis! Aqui restabelecemo-nos e recuperamos energias, pois já estávamos a precisar!!
A pior parte do troço é a chegada a Porriño porque o caminho é feito pela estrada, e como chegamos tarde (por volta das 16h) estava muito calor!!! Esfomeadas e cansadas, mal entrámos na cidade, procurámos logo um restaurante para comer, hidratar e descansar as pernas!
De seguida fomos arrastar-nos até o albergue. Chegamos ao albergue rotas! Instalamo-nos e preparamo-nos para o dia seguinte. Ainda deu para conviver com um grupo de peregrinos, com quem mantivemos o contacto até o final do Caminho.

2ª etapa - O Porriño a Redondela (18km)
Nós aprendemos logo no final do primeiro dia que íamos apanhar dias de muito calor e por isso tínhamos de acordar bem cedo. Quanto mais madrugássemos, menos calor íamos sentir ao longo da etapa. Para além disso é importante terminar a etapa cedo, para poderemos encontrar o alojamento, almoçar e descansar durante a tarde.
Decidimos então acordar pelas 5h30 e saíamos do albergue pelas 6h00. Dependendo dos dias, entre as 13h00 e as 14h00 estávamos a terminar a etapa.

Esta 2ª etapa foi uma das mais fáceis do Caminho, passámos por muitas estradas secundárias e atravessamos várias aldeias. Saímos de Porriño e passamos por Mós, uma aldeia bonita. Aqui paramos para comer qualquer coisa. O resto do caminho teve algumas subidas mas que se fizeram bem.
Chegámos cedo a Redondela. Ainda tivemos que fazer tempo para entrar no albergue, pois o check-in era só a partir das 14h.
Apesar do calor intenso, pois estava um dia atípico de calor, à tarde aproveitamos para fazer um almoço tardio, dar um passeio pela cidade, ir ao supermercado e descansar o resto do dia.

3ª etapa - Redondela a Pontevedra (21km)
Esta etapa é uma das mais bonitas, pois a maior parte do percurso é feito por terra batida e pelo meio de bosques e serrados. 
Logo no inicio, passamos pela ria de Vigo onde as vistas são soberbas. De seguida, fizemos uma paragem junto à ponte medieval de Pontesampaio para tirar fotos, descansar um pouco e para admirar o dia que estava lindo. O resto do caminho foi igualmente bonito mas exigente fisicamente.
Chegámos a Pontevedra pelas 14h00. Fomos diretas para o hotel que fica mesmo à entrada da cidade. Depois de nos instalarmos, fomos de táxi para o centro da cidade. Aqui almoçamos num restaurante muito agradável. Era domingo e estava calor, por isso os galegos estavam todos na rua a conviver.
De seguida, ainda nos sentimos com energia para explorar o centro da cidade, pois Pontevedra é considerada a capital e a mais bonita do Caminho Português de Santiago. E é realmente muito bonita!

4ª etapa - Pontevedra a Caldas de Reis (26km)
Esta é uma das etapas mais longas do nosso trajeto. Como estávamos alojadas um pouco longe do centro demorámos algum tempo atravessar a cidade e acabamos por nos atrasar um pouco. 
Ao longo do dia atravessámos muitas vinhas e bosques. No final da etapa, o Caminho entra pela estrada, onde as sombras são nulas. Um deserto de asfalto. 
A certa altura o cansaço atacou-nos de rompante, em sintonia com o sol implacável, e arrastámo-nos até ao final desta etapa. Tivemos que fazer mais paragens do que o habitual.
Mesmo na parte final passamos por um caminho entre vinhas, mas o calor era tanto que não nos deixou desfrutar do caminho.
A etapa termina na bela cidade termal de Caldas de Reis. Chegámos exaustas à cidade por volta das 16h com 33ºC!!
Depois de recuperadas fomos visitar a Catedral, demos um pequeno passeio à beira rio e aproveitamos para mergulhar os pés nas quentes águas termais da fonte pública de Las Burgas. Lá tivemos um excelente momento de convívio com mais peregrinos que foi bastante reconfortante.

5ª etapa - Caldas de Reis a Padrón (23km)
Apesar do dia anterior ter sido muito duro e o cansaço acumulado já ser algum, iniciámos esta etapa animadas e motivadas para mais um dia de caminhada.
Esta é mais uma etapa maravilhosa do Caminho de Santiago, pois segue pela floresta, com bastante sombra e entre riachos.
O final da etapa é em Padrón, cidade conhecida pelos pimentos Padrón. Chegámos a Padrón pelas 12h00. Assim que chegamos à cidade fomos encontrando caras conhecidas e acabámos todos juntos a comer no tasco do "Pepe". Uma verdadeira animação.
Depois de nos instalarmos no albergue (para mim o melhor do caminho) fomos descansar pois o cansaço do corpo já se começa a notar.
À tarde fomos visitar a Igreja de Santiago de Padrón. Segundo a lenda, foi em Padrón que aportou a barca que transportou os restos mortais do Apóstolo Santiago desde Jaffa, no Médio Oriente (onde foi decapitado), até à Península Ibérica no ano de 44. A pedra – ou padrão – a que foi presa a barca está presentemente colocada por baixo do Altar da Igreja, ponto de paragem obrigatório para todos os peregrinos que seguem pelo Caminho Português de Santiago.
De seguida, percorremos a cidade por um supermercado e terminamos o dia a comer num restaurante numa praceta encantadora.

6ª etapa - Padrón a Santiago de Compostela (28km)
Última etapa do Caminho de Santiago e é a etapa menos bonita. Passámos por alguns bosques mas à medida que nos aproximamos do final o caminho faz-se mais por estradas.
Ao aproximarmo-nos de Santiago de Compostela vamos ficando cada vez mais ansiosos e somos inundados por um sentimento de superação.
Chegámos a Santiago às 14h30. Fim do Caminho! A sensação de vitória é imensa! Os peregrinos estão estendidos no chão, na Praza do Obradoiro extasiados e a comemorar. O ambiente é de festa!

Apesar de termos partido sozinhas nesta aventura, todos os dias fomos conhecendo pessoas pelo caminho. A certa altura, já quase que nos conhecíamos todos uns aos outros.
Fizemos esta última etapa sempre acompanhadas por 3 raparigas que conhecemos pelo caminho e com quem fizemos amizade. A certa altura da etapa juntaram-se mais pessoas a nós e quando terminamos o caminho eramos um grupo grande.
Já em Santiago na praça fomos encontrando muitas caras conhecidas do Caminho e que nos cumprimentavam com um abraço de missão cumprida. Afinal de contas, é isto o Caminho!

Recompostas com a chegada, fomos para o Centro do Peregrino para obter a Compostela que é um certificado que garante que cumprimos a peregrinação, de pelo menos 100km. Para obtê-la é necessário apresentar a Credencial do Peregrino que fomos carimbando ao longo do caminho nos albergues e estabelecimentos que cruzamos. Esta tem que ser carimbada no mínimo duas vezes por dia ao longo do caminho.
Depois de termos a Compostela, fomos todos juntos comemorar, a comer e a beber. Um momento de convívio maravilhoso.
De seguida, cada um foi para o seu alojamento. Aqui optamos por ficar num hotel pelo conforto e comodidade. Depois de instaladas regressamos à Catedral para para assistirmos à missa do peregrino. 
O dia terminou num restaurante a convivermos com o nosso grupo da chegada. Um final maravilhoso!

"O motivo que nos leva a percorrer o Caminho de Santiago é pessoal. Não existe um motivo certo ou errado, adequado ou não, existe o nosso motivo, aquele que é o verdadeiro para nós!"
                                                                                             Espaço Jacobeus


Dicas para o Caminho:
  • As infraestruturas de apoio ao peregrino, contando com albergues, cafés e restaurantes vão aparecendo ao longo do caminho. Há também uma vasta oferta de supermercados ou mercearias onde o peregrino se pode abastecer.
  • Em termos de alojamento existem várias opções. Nós optamos por ficar 3 noites em Albergues privados e 3 noites em Hotel. Os albergues quer públicos quer privados oferecem condições básicas para o apoio à caminhada: cama e dormitórios, cobertor, balneários, lavandaria em alguns casos e cozinha onde se podem preparar refeições. Optámos por dormir nalguns hotéis pela privacidade e por um pouco mais de conforto. No entanto, todos os albergues onde ficámos eram excelentes.

Estes foram os meus alojamentos ao longo do caminho:


Sem dúvida que foi uma experiência fantástica! No inicio quando comecei a pensar em fazer o Caminho achava que talvez não estaria fisicamente capaz para o fazer. No entanto, aprendi que apesar do treino físico ser importante se a mente não estiver preparada para as exigências do Caminho, pouco ou nada vai servir. Dizem que para percorrer o Caminho com sucesso 25% é trabalho físico e 75% é trabalho psicológico. Não sei se serão bem estas as percentagens, mas da minha experiência posso garantir que o psicológico supera o físico quando se percorre o Caminho de Santiago.
No final do Caminho, fiquei surpreendida com a minha resiliência e descobri que tinha mais força do que sabia. E no final o sentimento que fica é uma sensação arrebatadora de liberdade. 

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